domingo, 30 de julho de 2023

Para além das reflexões



Na obra de Oscar Wilde, "O Retrato de Dorian Gray", e no clássico de Robert Louis Stevenson, "O Médico e o Monstro", encontramos profundas reflexões sobre a natureza humana e suas complexidades, especialmente no contexto da solidão e da dor da alma. Esses personagens fictícios, embora distintos, podem ser interpretados como metáforas para a jornada humana em busca da sabedoria interior através da experiência da dor e da solidão.

Assim como Arthur Edward Waite afirmou, "A solidão é a oficina dos alquimistas da alma, onde o chumbo da dor é transformado no ouro da sabedoria interior". Nessa perspectiva, tanto Dorian Gray quanto o Dr. Jekyll compartilham da experiência de se encontrarem isolados em suas próprias angústias interiores, buscando uma liberação para suas dores e conflitos emocionais.

Dorian Gray, em sua busca pela juventude eterna e prazeres mundanos, se vê preso em um ciclo de vaidade e indulgência. Sua solidão é mascarada pela beleza superficial que o retrato em seu sótão carrega, guardando todos os sinais de seus pecados e degradação. A dor da alma de Dorian é refletida no retrato, enquanto sua consciência permanece intocada. O preço pago por Dorian Gray em seu desejo egoísta é a sua própria humanidade, aprisionado em um retrato envelhecido, enquanto sua aparência permanece imutável. Sua solidão, no final, revela a inevitável consequência de suas escolhas imorais e a incapacidade de escapar da dor que ele mesmo causou.

Já o Dr. Jekyll, em "O Médico e o Monstro", busca separar sua natureza boa da má, acreditando que, ao fazê-lo, poderia liberar-se do mal que o assombra. No entanto, sua experiência demonstra que a dor e a solidão da alma não podem ser facilmente dissociadas. A dualidade entre Dr. Jekyll e Mr. Hyde representa o conflito interior de cada ser humano, a batalha constante entre o bem e o mal que coexiste em todos nós. O sacrifício aqui é o de sua própria identidade e sanidade, enquanto tenta controlar o monstro dentro de si. A libertação só é alcançada quando o Dr. Jekyll toma consciência de que não pode separar-se de sua outra metade, mas deve encontrar um equilíbrio e aceitar toda a sua natureza.

Tanto Dorian Gray quanto o Dr. Jekyll enfrentam a dor e a solidão como resultado de suas escolhas e ações. O caminho para a sabedoria interior, para a libertação da alma, só pode ser alcançado quando reconhecem que cada ação tem consequências e que a verdadeira transformação só ocorre quando se compreende a interconexão de todas as coisas no universo. Consciência do todo é aceitar a responsabilidade por suas escolhas e suas sombras interiores, buscando o equilíbrio e a harmonia em vez da mera satisfação dos desejos imediatos. Somente assim a dor pode ser transformada em sabedoria, e a solidão, em comunhão com o universo.



No contexto do paralelo entre o amor universal, o amor efêmero e os prazeres dopaminérgicos, podemos encontrar uma relação profunda com a jornada da alma em busca de sentido e plenitude. O amor universal, muitas vezes associado à compaixão e ao amor incondicional, representa a conexão profunda com todas as formas de vida, transcende o ego e é uma expressão da unidade do ser com o todo cósmico.

Por outro lado, o amor efêmero é aquele que está sujeito à impermanência e à volatilidade das emoções humanas. Ele é frequentemente associado aos relacionamentos e paixões passageiras, baseados em atração física e desejos temporários. Esse tipo de amor pode trazer prazer momentâneo, mas também pode levar à dor e à solidão quando a conexão se desvanece.

Por sua vez, os prazeres dopaminérgicos referem-se aos estímulos que ativam a liberação de dopamina no cérebro, como o consumo de drogas, experiências sensoriais intensas ou comportamentos viciantes. Esses prazeres, embora possam trazer sensações de euforia e gratificação instantânea, também são passageiros e, muitas vezes, mascaram uma busca mais profunda por significado e satisfação verdadeira.

Nesse contexto, o amor universal representa a busca pelo verdadeiro sentido da existência e a conexão com algo maior do que o eu individual. Ele transcende a busca por prazeres momentâneos e efêmeros, apontando para uma compreensão mais profunda da vida e de nosso propósito nela.

Incorporando uma frase ocultista sobre a morte, podemos refletir sobre a natureza transitória da existência e a importância de confrontar a finitude como uma fonte de transformação:

"Na morte, encontramos o limiar que separa as ilusões do mundo material da verdadeira essência espiritual, revelando a eternidade que reside no âmago de cada alma." - Autor desconhecido.

Essa reflexão nos leva à questão da existência vazia que muitas vezes afeta as pessoas "sonâmbulas" que habitam o mundo. Vivendo em uma rotina mecânica e superficial, elas podem se sentir desconectadas do propósito da vida e presas em um ciclo de busca por prazeres imediatos e fugazes. Essa existência vazia pode ser resultado do afastamento do amor universal, da conexão com algo maior do que si mesmo, e da negligência das profundidades da alma em busca de sabedoria e significado.

A busca por prazeres efêmeros e dopaminérgicos pode proporcionar uma satisfação temporária, mas a verdadeira realização e plenitude só podem ser encontradas quando se desperta para a consciência do amor universal, para a conexão com o todo e para a compreensão de que a morte é apenas uma passagem para a eternidade da alma.

Assim, é essencial despertar do sono da existência vazia e buscar uma conexão mais profunda com a vida e com o universo, buscando uma consciência mais plena e significativa. A jornada rumo à sabedoria interior e ao amor universal é o caminho para romper com a superficialidade e encontrar a verdadeira essência do ser humano. Apenas quando nos conectamos com o todo, encontramos o sentido que preenche nossa existência e transcende a solidão e a dor da alma.

Ao refletir sobre a busca da sabedoria interior e do amor universal, é impossível não mencionar as ideias de Carl Gustav Jung, renomado psicólogo e estudioso da psique humana. Jung acreditava na existência de um processo de individuação, que é a jornada de autodescoberta e integração dos elementos inconscientes e conscientes da personalidade. Essa jornada é essencial para encontrar significado e plenitude na existência.

Assim como na alquimia, onde a Pedra Filosofal era o grande objetivo dos alquimistas, a individuação representa a busca pela "Pedra Filosofal" interior, que simboliza a totalidade e a unificação do ser. Ao alcançar esse estado de integração, a pessoa se liberta da ilusão da existência vazia e descobre a verdadeira essência de sua alma.

Jung acreditava que, ao explorar o inconsciente e confrontar os aspectos sombrios de nossa psique, podemos alcançar uma transformação interior profunda e alquímica. Ao integrar os opostos dentro de nós mesmos, encontramos a unidade e a conexão com o todo, abraçando nossa natureza mais profunda e espiritual.

Nessa aplicação etérea da existência, a busca pela Pedra Filosofal interior transcende as preocupações efêmeras do mundo material e se dirige ao encontro com nossa essência espiritual. É o processo de despertar para a conexão com o universo e com o amor universal, reconhecendo que somos parte de um todo maior.

Assim como na alquimia, em que a Pedra Filosofal tinha o poder de transformar metais inferiores em ouro, a individuação nos permite transformar as partes mais sombrias e imperfeitas de nossa psique em sabedoria e compreensão. É o caminho para a iluminação e a libertação da dor da alma, encontrando a essência pura e eterna que reside dentro de cada um de nós.

Em última análise, a aplicação etérea da existência é a busca pelo autoconhecimento profundo, pela integração das dualidades e pela conexão com o todo cósmico. É o mergulho na jornada alquímica da alma, onde a Pedra Filosofal representa a plenitude e a transformação interior. Quando nos empenhamos nessa busca, transcendemos a existência vazia e encontramos o verdadeiro sentido e propósito de nossa vida. Através do amor universal e da conexão com o todo, encontramos a sabedoria que preenche nossa existência com significado e transcende a dor e a solidão da alma. É o caminho para a verdadeira realização e iluminação.



segunda-feira, 24 de julho de 2023

A forja psiquica

 







Bom dia, boa tarde, boa noite. Venho trazer uma reflexão a cerca da psique do mago. É comum nesse blog me ver falando que o mago é senhor da vontade e por muitos posts ressaltei a importancia da persistencia diante das adversidades. A mente é martelo que bate até purificar o coração e é ai que entra o que chamo de forja psiquica.

Para se ter um metal puro o ferreiro bate varias e varias vezes...consigo ver uma certa semelhança com o processo de amadurecimento e nessa busca por remover as impurezas se conquista um coração forte como aço...mas não somos feitos de aço.

Somos feitos de carne e nosso peito sangra todo dia com o pulsar de nossos corações, ainda assim a razão se revela a unica ferramenta capaz de impulsionar o fluxo de emoções e energias psiquicas dentro de nossa realidade e amadurecimento.


A magia antes de mais nada é um jogo de fé que passa pela razão, mas que só ganha proposito dentro dos corações forjados pela vitoria da vontade sobre a apatia. Também é comum ver por aqui eu insistir na ideia que magia é a ação. O verbo divino que se realiza atravez do simples ato de agir. O ferreiro experiente é aquele que aprendeu a confiar nos processos...entende que são eles que refinam o trabalho e atravez deles que se obtém um resultado primoroso.

Gosto de pensar que a magia assim como tudo na vida cobra seu preço. Nada é de graça e aquilo que parece ser não recebe um valor lá muito alto. É preciso de esforço...porque só atravez dele que ha real progresso. Acreditar juntamente com a criatividade e a razão é o que torna o mago um mestre da forja psiquica.


Lembro de falar no post passado sobre a associação da espada e do ego. Aqui reafirmo que é somente atravez da forja psiquica o mago obtem o controle abrindo mão do controle. O ego é um fardo, uma maldição e saber refinar o coração para não se perder em impurezas é o dever sagrado de todo iniciado na arte.

Eu mesmo por conta do TDAH e do autismo tenho dificuldade em funções executivas...basta ver a falta de constancia aqui no blog, mas ainda assim cabe a mim lutar e entender que só metiante a martelada a mente dobra as fibras musculares do coração em um ato artistico e ritmado capaz de levar para aquilo que realmente almejo ser.

Carregue um coração forjado pela psique em niveis internos tão profundos como as raizes de uma grande arvore e entenderá que é perigoso ir sozinho sem emoções organizadas, cadenciadas e ministradas atravez da fundição da mente, o espirito e o objeto final, o coração, livre de dor e preocupação.




Por fim faço uso da colocação dita no filme dr estranho para ressaltar que não se fica acima das sombras e dos demonios internos sem um coração puro, forte e forjado atraves da arte de persistir martelada apos martelada até se comprender a ponto de não mais precisar se refinar, mas como somos falhos somos fadados a vira e meja voltar pra forja psiquica para novamente nos tranformamos em um eterno jogo de cura e ressurgimento.

domingo, 23 de julho de 2023

O Ego seria a espada suprema?


Olá, caro leitor que não desistiu do blog da cabana. Entre trancos e barrancos estou de volta. Então pega uma cadeira e se aconchegue no calor da lareira da reflexão e do pensamento. Nessa madrugada gostaria de levantar uma questão. Seria o Ego um vilão?

Sinceramente acredito que não. O ego está para o ser como a espanda para o magista. A espada antes de mais nada é uma ferramenta de violencia, mas tambem pode representar a proteção. Na magia representa o elemento fogo. O fogo que pode consumir tambem pode suprir. O ego é isso o fogo oculto no interior do Ser. Se descontrolado ele queima a si mesmo e o mundo ao seu redor, mas quando canalizado ele nos permite criar.

A espada é um simbolo de honra e poder e representa o masculino...O ego por sua vez é muito mal visto, mas ele que nos protege dentro de nossa fortaleza de amor proprio. Ele parte do que nos somos e nega-lo é algo perigoso.

Como dize Clarice Lispector: Até cortar os proprios defeitos pode ser perigoso..."

É isso o ego faz parte do que somos e o magista deve lidar com a luz e as sombras.  Respeitando cada uma das forças dentro de sua totalidade. Ha um ditado samurai que diz: "Uma espada em punho mantem a outra na bainha"

Esse ditado faz alusão ao fato que as vezes precismaos da sombra e vilaniza-la e nega-la é um erro infantil e orgulhoso. O ego é parte do Ser, mas não deve ser seu guia e sim sua proteção.

E você leitor o que pensa sobre o ego? Enxerga a beleza por tras das sombras? Particulamente não é facil mediar a fina linha que separa as varias camadas que constituem quem somos e o que queremos ser.


Schopenhauer, gosto da frase acima que pode ser encarada como arrogancia ou como efeito de um ego inflado, mas acredito que para desvendar os misterios da existencia é fundamental uma dose de veneno...veneno que impulsiona a inteligencia. Lembre-se que nem o budismo se liberta do ego.


Por fim faço uso das palavras da monja Coen para resaltar que a grandeza não está em se livrar do ego, mas controlar a si mesmo tão precisamente atraves da vontade a ponto de saber como manejar essa força...assim como o espadachim que treina para dominar a espada.